Doria cancela repasses a prefeituras que não apoiaram sua candidatura ao governo

Com o argumento de racionalizar e otimizar recursos para maior eficiência das políticas públicas diante de um cenário de restrições orçamentárias e financeiras, gestão cancela convênios para prefeituras que apoiaram Márcio França em 2018
 
 

O governador de São Paulo João Doria (PSDB) mandou cancelar convênios com 49 municípios de todo o estado firmados entre os dias 18 e 28 de dezembro por Márcio França (PSB). Os repasses, que totalizam R$ 143 milhões, eram destinados a obras de infraestrutura urbana, como pavimentação, obras contra enchente e reformas de espaços públicos. A medida foi publicada no Diário Oficial nesta terça-feira (8).

Na versão do secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi (PSDB), a gestão Doria avalia se os convênios foram firmados pela gestão anterior sob uma perspectiva política e não administrativa. “O que justifica São Vicente receber mais recursos do que São Paulo, a capital do estado?”, questionou Vinholi.  No entanto, o secretário afirmou que, apesar de todos os convênios assinados por França no período terem sido cancelados, os critérios usados para justificar a medida não foram políticos. 

Segundo ele, os projetos que haviam sido contemplados “não cumpriram os requisitos técnicos comuns, sem plano de trabalho, para a assinatura de convênios com esses objetos”.

Márcio França, no entanto, refutou a versão de Doria de que falta dinheiro. Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-governador afirmou que a folha de pagamento do Estado, citada pelo novo secretário Meirelles, custa R$ 4,2 bilhões. “Portanto, foram deixados recursos suficientes para duas folhas de pagamento em caixa. Além disso, haverá forte arrecadação do IPVA em janeiro, como acontece historicamente”.

A projeção do IPVA, conforme a nota, é de mais de R$ 3 bilhões em janeiro, e outros R$ 1,3 bilhão em fevereiro e mais R$ 1 bilhão em março. “Depois haverá uma média de R$ 300 milhões por mês. Tudo foi informado para a equipe da transição.”

“Coincidências”

São Vicente, onde França começou sua vida pública em 1989, como vereador, e foi prefeito de 1997 a 2005, é o mais afetado pelo cancelamento em bloco imposto por Doria: havia firmado cinco convênios.  A cidade da Baixada Santista vai deixar de receber R$ 47.705.288,31 que seriam destinados em sua maior parte a obras de prevenção e contenção de enchentes e alagamentos.

Carapicuíba, na Região Metropolitana, é o segundo muinicípio mais prejudicado pela anulação dos repasses. Vai ficar sem R$ 20 milhões referentes a dois convênios agora cancelados. Durante a campanha eleitoral, o prefeito Marcos Neves (PV) manifestou apoio a França. Do mesmo modo, o prefeito Gregório Maglio (MDB), de Pirapora do Bom Jesus, vai ficar sem o repasse de R$ 600 mil. Os dois municípios integram o Consórcio Intermunicipal da Região Oeste da Grande São Paulo (Cioeste), que em sua maioria preferiu não apoiar Doria na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.  

Outros dois municípios da Baixada Santista afetados são Santos, que receberia R$ 14 milhões, e Guarujá, R$ 11.924.644,77. Os respectivos prefeitos apoiaram França. na eleição do ano passado. Os recursos seriam destinados a obras de infraestrutura urbana. 

Em outubro, o prefeito tucano de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, aliado de Geraldo Alckmin (PSDB), declarou que não apoiaria João Doria na corrida ao governo de São Paulo.

“Diante disso, o prefeito Válter Suman (PSB) fez contato com a Casa Civil do Estado e a Prefeitura reapresentará os projetos para tentar reverter a situação”, afirmou a administração do Guarujá, por meio de nota enviada à redação.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o recém empossado governador paulista afirmou que seu correligionário “não representa os ideais do partido e é movido por oportunismo eleitoral”. Paulo Alexandre disse ainda que “Doria traiu não só o seu eleitorado, quando  não cumpriu o mandato, mas também o seu padrinho político, Geraldo Alckmin, quando tentou ser o candidato à presidência no seu lugar”.

Na ocasião, Doria chegou a defender que os infiéis a ele deveriam ser expulsos do partido. Questionado sobre isso pelo jornal, Barbosa afirmou que, “sendo o critério para expulsão a traição, João Doria é o primeiro da fila. Quem deve ser expulso é ele”.

 
 
 

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